2 de dezembro de 2013

A idosa

Ela chegou, bateu com a porta. Fungou, fez barulho com os sacos e malas e merdas que trazia nas mãos. E com os pés, com as solas dos sapatos, com os joanetes, pendurou o casaco, sempre afobada, no cabide. Não disse bom dia, não disse rigorosamente nada. Olhei para ela, ela olhou para mim, disse-lhe: Então, foste à tosquia? Óbvio que sim, era apenas para quebrar o ciclo vicioso da má disposição. Mas a puta da velha fingiu que não ouviu e não me respondeu. Falou com maus modos durante toda a manhã, finge que é surda e não ouve e obriga as pessoas a repetir, quase até à exaustão, as mesmas frases, as mesmas perguntas. Agora bate com nós nós dos dedos na mesa, funga, espirra - ninguém diz "santinha", é bem feita! - palita os dentes com a língua (linguita os dentes?), come de boca aberta, sussurra coisas dos estilo "não acredito...", frente ao pc, e ninguém lhe pergunta se precisa de ajuda, a puta da velha. E é um crescendo de ruídos, para se fazer ouvir, para chamar a atenção. E eu tenho a certeza que se lhe dissesse - Então, que se passa? Isso está mau... - a disposição mudaria radicalmente, a puta da velha, para melhor. Sei que é assim, já vi acontecer milhares de vez neste gabinete, quase todos os dias...quase todos os dias!! Já participei no esquema, conscientemente, inúmeras vezes. Mas o problema é que a paciência se esgota. Em bom português: não há cú que aguente a velhaca da velha, da-se!

Só por causa disso, vou à rua comer um gelado de dióspiro. Diz que é bom.

PS - ela também se assoa, arrota e tem soluços.
PPS - gelado de creme de ovo ao vinho do porto e creme de avelã com chocolate. E já estava a precisar de outro, ihihi!

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